Manutenção preventiva do veículo é fundamental para a segurança.
Confira dicas do colunista Roberto Agresti para checar itens mecânicos.
Cuidados mecânicos com as motos (Foto: Gustavo
Epifanio/Rafael Munhoz/Caio Kenji/G1)
Epifanio/Rafael Munhoz/Caio Kenji/G1)
Prevenir é melhor do que remediar. Mais do que um provérbio, esta é uma atitude que deve nortear a vida do motociclista. Na pilotagem, prever o que pode ocorrer à frente é preceito básico, mas a manutenção preventiva é uma exigência para qualquer motociclista que deseje cuidar de seu veículo e também de sua integridade física.
O que pode fazer um cidadão que optou pelo guidão e que nem por isso deseja se tornar um expert em manutenção para evitar problemas? Capacidade de observação e, claro, muito bom senso, é a resposta. Abaixo você encontrará algumas orientações para a tarefa de deixar a sua moto em dia.
1) Pneus
Um bom começo para evitar problemas é aprender a observar os pneus. Veículos de duas rodas dependem de movimento para alcançar equilíbrio, além disso tem área de contato com o solo mínima – equivalente ao tamanho de um cartão de crédito. Isso dá aos pneus brutal importância.
A rotina de observação diária não alterará o desgaste da banda de rodagem, porém pode detectar anomalias como bolhas, deformações ou o mais comum, simples e muito perigoso pneu murcho.
Verificar semanalmente a pressão dos pneus assim como respeitar os valores recomendados pela fábrica é fundamental. E tão importante quanto a verificação frequente da pressão dos pneus é treinar o olho para identificar um pneu “murchinho” como aquela laranja que rolou para trás da geladeira há mais de um mês.
Pneus inflados incorretamente causam evidentes problemas de dirigibilidade: o guidão fica pesado, as respostas às mudanças de direção são estranhas, furos e rasgos ocorrem com mais facilidade e, em casos extremos, o pneu pode sair do aro com imprevisíveis consequências, todas ruins. Se cheio demais, o pneu não “copia” os defeitos da pista, transmitindo irregularidades do solo às mãos de maneira desconfortável e prejudicando a estabilidade do veículo.
2) Correntes e transmissão
O hábito de olhar frequentemente os pneus favorece um vizinho importante, o sistema de transmissão. A maioria das motos se vale de corrente para levar a força do motor para a roda traseira. Esse elemento mecânico de ligação precisa de carinho, quase como se fosse um bicho de estimação: lubrificação semanal, ou no mínimo quinzenal, ajuda a alongar a vida útil, não apenas da corrente, mas também de seus parceiros, o pinhão (a engrenagenzinha que você não vê, perto do motor) e a coroa (a engrenagenzona, que você vê, acoplada à roda).
Corrente seca, sem lubrificação, dura pouco, corrói o pinhão e coroa
por atrito e, pior de tudo, está mais sujeita ao rompimento. E se isso
acontecer, na melhor das hipóteses a moto simplesmente correrá solta
como se estivesse em um eterno ponto morto, até parar. E na pior das
hipóteses? A corrente quebrada pode enroscar na roda traseira e
travá-la. Imagine isso em velocidade, no meio de uma manada de carros,
ônibus e caminhões? Ruim demais... E há ainda uma terceira hipótese,
péssima: a “chicotada” no motor que a vingativa corrente dá quando se
rompe, quebrando o metal da área circunstante ao pinhão.
Tal estrago poderá inundar de óleo instantaneamente o pneu traseiro e,
dependendo da extensão do dano, decretar um gasto grande, ou até mesmo a
morte do motor. Perda total...
Também o clima e o tipo de uso dado à moto influenciam o ritmo de manutenção da transmissão. Em época chuvosa ela deve ocorrer com frequência quase diária, assim como quando se roda em estradas de terra, areia ou, pior ainda, na lama.
Há lubrificantes específicos para corrente, mas, para quem queira e/ou precise fazer economia, o bom e velho óleo de motor usado servirá, desde que aplicado com parcimônia - de modo a não causar um desastre ecológico em nosso meio ambiente.
3) Freios
Outro ponto nevrálgico em termos de manutenção é o sistema de frenagem. Hoje boa parte das motos é equipada com discos de freio ao menos na dianteira e, por conta do funcionamento de freios estar baseado em atrito, desgaste haverá não só nas pastilhas, mas também no disco. A análise visual também é adequada neste caso. Pastilhas de freio não são fáceis de avaliar quanto ao desgaste pois ficam escondidinhas. Mas no disco fica mais aparente. Riscos ou raias profundas são indicadores de vida útil terminal.
Já as pastilhas em fim de carreira por vezes “entregam“ seu mau estado não apenas via perda de eficiência e a alavanca de freio com curso maior, mas também pelo ruído anormal quando acionamos o freio. Neste caso, mais do que o olhar, é a audição é que ajuda. Mas, atenção, pois quando a superfície de atrito acaba, é o metal da pastilha que entra em contato com metal do disco e... o barulho de ferro com ferro só não é pior que o dano no bolso, já que um disco riscado em excesso deve ser trocado, sem choro nem vela.
Com relação ao sistema de freio a tambor, além da atenção quanto à eficiência e baixa acentuada da alavanca ou pedal, há que se observar os pequenos indicadores de desgaste que, por meio de uma seta metálica que aponta para uma pequena escala, anunciam quanto de vida útil resta. E vale o mesmo discurso que para o disco: metal em atrito com metal é prejuízo certo. Ou seja, olho (e ouvido) vivo é preciso...
4) Ruídos e outros 'sinais'
Mas não é só de cuidados com pneus, transmissão e freios que é feita uma boa manutenção. A alma de uma motocicleta, ou seja, o motor, é algo que "fala" claramente se as coisas vão bem, mais ou menos, ou mal. A simples perda de potência ou ruídos, fora o natural rugido do escape, não são muito bem-vindos.
Ruídos mecânicos são naturais em qualquer motor, mas é importante prestar atenção a barulhos que aumentam e variam, intermitentes ou contínuos que sejam. O bom senso também é senhor desta situação e, em caso de um barulho que fica cada vez mais forte, desligar o motor e esperar que esfrie ao menos por 15 minutos pode ser revelador.
O desaparecimento (ou diminuição) do ruído na sequência não é uma notícia boa, mas apenas a comprovação de que algo não vai bem, e que certamente tem relação com a temperatura de funcionamento. Caso o barulhão ainda esteja lá, igualzinho, aí sim, é melhor não insistir. Desligar o motor e levar a moto ao mecânico é a atitude correta.
De certo modo esse procedimento de atenção à mudanças também vale para o comportamento de comandos como acelerador, embreagem e câmbio: endureceu, amoleceu, ficou diferente? Qualquer variação merece investigação. Às vezes pode ser uma bobagenzinha, lubrificação e/ou ajuste, mas às vezes é prenúncio de um problema maior.
5) Óleo
Por incrível que pareça um alto índice de problemas sérios nos motores ocorre pelo desleixo com uma das mais básicas operações: a troca de óleo. Muito esquecem deste “detalhe” não seguindo à risca a indicação do fabricante nem quanto à frequência nem no que diz respeito ao tipo de lubrificante. Pensando bem, óleo é barato se comparado ao potencial estrago que pode causar óleo velho ou em quantidade insuficiente no cárter do motor. Além disso, a varetinha que indica o nível está lá para ser usada, certo?
6) Bateria
Outro líquido importante é a água destilada necessária ao bom funcionamento da bateria: controlar o nível é uma operação chatinha, mas fundamental para aumentar a vida útil do componente. Felizmente, boa parte das motos atuais tem baterias do tipo selado, que não exigem manutenção e, neste caso, basta cuidar para que não ocorra um “acidente”: o mais comum é deixar a chave de contato na posição “on” ao estacionar na garagem.
Outro pecado é abusar da buzina, ou acionar por longo tempo o botão de partida. Se ligar o motor é algo que, de um momento ao outro ficou difícil, é necessário buscar o problema antes de sobrecarregar a bateria e o sistema de partida.
E o famoso “ligar a moto no tranco”, pode ou não pode? A ação não é nada recomendável mas, em caso de emergência, é necessário ter em mente que, se a bateria efetivamente morreu (nenhuma luz acende no painel, nem fraquinha que seja) não será o tranco que vai ser capaz de “acordar” o motor.
Outro problema de ligar o motor no tranco é o risco de encharcar o catalisador de combustível, peça cara que deverá ser trocada caso isso aconteça. Outra contra-indicação é a hipótese de ocorrer calço hidráulico, que pode acometer (raramente, é certo) motores dotados de carburador que “vaza” combustível para a câmara de combustão, enchendo-a de líquido. E se isso acontecer, na hora do “tranco” a biela costuma ir para o espaço. Grave...
7) Combustível
Por fim, uma última palavra merece o tema “combustível”: rodar com pouca gasolina ou, pior ainda, deixar o motor apagar por pane seca pode ser muito prejudicial ao motor. Por melhor que seja o combustível, sempre existirão resíduos no tanque, partículas de indesejável sujeira que normalmente ficam depositadas no fundo do reservatório.
O tanque “no osso” torna grande a probabilidade deste lixo ir parar
dentro do delicado sistema alimentação, e se isso ocorrer, entupimento
parcial gerando falhas no funcionamento é o menor dos problemas. Ruim
mesmo será o motor apagar durante uma ultrapassagem. E ainda sobre
combustível, outra dica: ao contrário de alguns vinhos, que melhoram com
o tempo, a gasolina (assim como o etanol) estraga quando fica velha,
criando borras e resíduos danosos ao motor.
Enfim, a escolha da motocicleta como meio de transporte ou lazer demanda atenção. Livrar-se de congestionamentos, ocupar menor espaço em um mundo cada vez mais carente de lugar, economizar tempo, dinheiro e paciência exige atitude. O cuidado em relação à manutenção, como dissemos, resultará não apenas em economia como também em segurança, nossa e dos demais usuários das vias públicas. E, fora tudo isso, não há senso em gostar de motos e não cuidar bem delas, certo?
Roberto Agresti escreve sobre motocicletas há três décadas. Nesta coluna no G1, compartilha dicas sobre pilotagem, segurança e as tendências do universo das duas rodas.
Também o clima e o tipo de uso dado à moto influenciam o ritmo de manutenção da transmissão. Em época chuvosa ela deve ocorrer com frequência quase diária, assim como quando se roda em estradas de terra, areia ou, pior ainda, na lama.
Há lubrificantes específicos para corrente, mas, para quem queira e/ou precise fazer economia, o bom e velho óleo de motor usado servirá, desde que aplicado com parcimônia - de modo a não causar um desastre ecológico em nosso meio ambiente.
3) Freios
Outro ponto nevrálgico em termos de manutenção é o sistema de frenagem. Hoje boa parte das motos é equipada com discos de freio ao menos na dianteira e, por conta do funcionamento de freios estar baseado em atrito, desgaste haverá não só nas pastilhas, mas também no disco. A análise visual também é adequada neste caso. Pastilhas de freio não são fáceis de avaliar quanto ao desgaste pois ficam escondidinhas. Mas no disco fica mais aparente. Riscos ou raias profundas são indicadores de vida útil terminal.
Já as pastilhas em fim de carreira por vezes “entregam“ seu mau estado não apenas via perda de eficiência e a alavanca de freio com curso maior, mas também pelo ruído anormal quando acionamos o freio. Neste caso, mais do que o olhar, é a audição é que ajuda. Mas, atenção, pois quando a superfície de atrito acaba, é o metal da pastilha que entra em contato com metal do disco e... o barulho de ferro com ferro só não é pior que o dano no bolso, já que um disco riscado em excesso deve ser trocado, sem choro nem vela.
Com relação ao sistema de freio a tambor, além da atenção quanto à eficiência e baixa acentuada da alavanca ou pedal, há que se observar os pequenos indicadores de desgaste que, por meio de uma seta metálica que aponta para uma pequena escala, anunciam quanto de vida útil resta. E vale o mesmo discurso que para o disco: metal em atrito com metal é prejuízo certo. Ou seja, olho (e ouvido) vivo é preciso...
Qualquer dúvida, leve a moto ao mecânico
(Foto: Rafael Miotto/G1)
(Foto: Rafael Miotto/G1)
4) Ruídos e outros 'sinais'
Mas não é só de cuidados com pneus, transmissão e freios que é feita uma boa manutenção. A alma de uma motocicleta, ou seja, o motor, é algo que "fala" claramente se as coisas vão bem, mais ou menos, ou mal. A simples perda de potência ou ruídos, fora o natural rugido do escape, não são muito bem-vindos.
Ruídos mecânicos são naturais em qualquer motor, mas é importante prestar atenção a barulhos que aumentam e variam, intermitentes ou contínuos que sejam. O bom senso também é senhor desta situação e, em caso de um barulho que fica cada vez mais forte, desligar o motor e esperar que esfrie ao menos por 15 minutos pode ser revelador.
O desaparecimento (ou diminuição) do ruído na sequência não é uma notícia boa, mas apenas a comprovação de que algo não vai bem, e que certamente tem relação com a temperatura de funcionamento. Caso o barulhão ainda esteja lá, igualzinho, aí sim, é melhor não insistir. Desligar o motor e levar a moto ao mecânico é a atitude correta.
De certo modo esse procedimento de atenção à mudanças também vale para o comportamento de comandos como acelerador, embreagem e câmbio: endureceu, amoleceu, ficou diferente? Qualquer variação merece investigação. Às vezes pode ser uma bobagenzinha, lubrificação e/ou ajuste, mas às vezes é prenúncio de um problema maior.
5) Óleo
Por incrível que pareça um alto índice de problemas sérios nos motores ocorre pelo desleixo com uma das mais básicas operações: a troca de óleo. Muito esquecem deste “detalhe” não seguindo à risca a indicação do fabricante nem quanto à frequência nem no que diz respeito ao tipo de lubrificante. Pensando bem, óleo é barato se comparado ao potencial estrago que pode causar óleo velho ou em quantidade insuficiente no cárter do motor. Além disso, a varetinha que indica o nível está lá para ser usada, certo?
É preciso ter cuidado com a bateria
(Foto: Rafael Miotto/G1)
(Foto: Rafael Miotto/G1)
6) Bateria
Outro líquido importante é a água destilada necessária ao bom funcionamento da bateria: controlar o nível é uma operação chatinha, mas fundamental para aumentar a vida útil do componente. Felizmente, boa parte das motos atuais tem baterias do tipo selado, que não exigem manutenção e, neste caso, basta cuidar para que não ocorra um “acidente”: o mais comum é deixar a chave de contato na posição “on” ao estacionar na garagem.
Outro pecado é abusar da buzina, ou acionar por longo tempo o botão de partida. Se ligar o motor é algo que, de um momento ao outro ficou difícil, é necessário buscar o problema antes de sobrecarregar a bateria e o sistema de partida.
E o famoso “ligar a moto no tranco”, pode ou não pode? A ação não é nada recomendável mas, em caso de emergência, é necessário ter em mente que, se a bateria efetivamente morreu (nenhuma luz acende no painel, nem fraquinha que seja) não será o tranco que vai ser capaz de “acordar” o motor.
Outro problema de ligar o motor no tranco é o risco de encharcar o catalisador de combustível, peça cara que deverá ser trocada caso isso aconteça. Outra contra-indicação é a hipótese de ocorrer calço hidráulico, que pode acometer (raramente, é certo) motores dotados de carburador que “vaza” combustível para a câmara de combustão, enchendo-a de líquido. E se isso acontecer, na hora do “tranco” a biela costuma ir para o espaço. Grave...
7) Combustível
Por fim, uma última palavra merece o tema “combustível”: rodar com pouca gasolina ou, pior ainda, deixar o motor apagar por pane seca pode ser muito prejudicial ao motor. Por melhor que seja o combustível, sempre existirão resíduos no tanque, partículas de indesejável sujeira que normalmente ficam depositadas no fundo do reservatório.
Enfim, a escolha da motocicleta como meio de transporte ou lazer demanda atenção. Livrar-se de congestionamentos, ocupar menor espaço em um mundo cada vez mais carente de lugar, economizar tempo, dinheiro e paciência exige atitude. O cuidado em relação à manutenção, como dissemos, resultará não apenas em economia como também em segurança, nossa e dos demais usuários das vias públicas. E, fora tudo isso, não há senso em gostar de motos e não cuidar bem delas, certo?
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